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........... UM POUCO SOBRE HISTÓRIAS IMPORTANTES QUE JÁ MARCARAM SEUS PASSOS POR ESTE MUNDO FORA ........... PARA QUEM GOSTA DE LER E SABER O QUE SE PASSA PELO MUNDO.
Situado no extremo ocidental do concelho de Cascais, onde desde a Idade do ferro se praticam os desconhecidos para reconhecidos cultos da fertilidade, encontramos o sitio arqueológico do Espigão das Ruivas, num lugar que a tradição designa como Porto de Touro ou Guincho Velho.
A envolvência deste lugar, bastante isolado do resto do território e, por isso, propício ao desenvolvimento de práticas ritualizadas, aliado ao facto de existir nas suas imediações um importante curso de água denominado Rio de Touro, possuía excelentes condições para o desabrochar de relações íntimas com a divindade, facto comprovado pela existência de um templo neste sítio, e que foi repetidamente reutilizado durante várias épocas, desde a pré-história até à actualidade.
De acordo com os dados arqueológicos fornecidos pelas escavações ali efectuadas pela Associação Cultural de Cascais, dirigidas pelo arqueólogo Guilherme Cardoso, o Espigão das Ruivas terá sido um dos principais pontos estratégicos onde se efectuou o culto da fertilidade, ainda hoje bastante vicejante junto das comunidades humanas que habitam ou utilizam as redondezas.
O afastamento do sítio face aos principais aglomerados humanos, bem como a proximidade patente face ao Rio de Touro, carregado com a simbologia da força e da virilidade, transformou este local de culto num sítio onde as práticas efectuadas não eram muito compatíveis com a mentalidade oficial das diversas épocas, factor condicionante da transformação de uma prática comum a quase todas as civilizações, ou seja, a adoração dos astros com o intuito de incrementara a fertilidade da mulher, uma zona profundamente vincada por um misticismo crescente, o que contribuiu para a manutenção, difusão e desenvolvimento dessas actividades. A natural curiosidade humana face ao desconhecido, bem como as especulações que também sob uma forma natural se vão desenvolvendo transformou o Espigão das Ruivas num sítio onde os meros rituais de passagem característicos de quase todas as sociedades ditas primitivas, depressa se transformaram em ritos mágico-religiosos carregados de um misticismo que se explica de forma natural pelas contingências geográficas e magnéticas que o local possuía, mas também pelo encantamento e pelo sentido apelativo que estava inerente às próprias acções ali desempenhadas.
De facto, quer a denominação de lugar, onde as ruivas representam, segundo a tradição popular, as antigas ninfas que ali aguardavam o sopro divino que lhes permitia o desenvolvimento da carga sexual com que encantavam os homens, quer mesmo o nome que ainda hoje é atribuído ao curso de água ali existente, em que a relação com o Deus Romano da fertilidade e com o símbolo grego e cartaginês da força e da pujança está extraordinariamente bem patente, demonstram bastante bem a forma como a prática reiterada de um exercício que se afasta da vivência quotidiana pode influenciar as mentalidades, a etnografia e mesmo a vida política de uma comunidade. Essa influência, por seu turno, acaba por influir, sempre de forma positiva, no próprio património edificado, tal como se constata pela listagem patrimonial que apresentamos em anexo.
A chegada dos romanos à Península Ibérica, bem como o esforço por eles desenvolvido no sentido de promover a efectivação de um processo de aculturação do qual dependia a real ocupação deste lugar, acabaram por influir decisivamente no desenvolvimento da nova mentalidade peninsular. De facto, por serem conhecedores de novas técnicas de utilização e de rentabilização do solo, herdadas na sua quase totalidade daquelas que o antigo império grego havia repescado das civilizações antigas do médio oriente, os romanos que se instalaram em Cascais acabaram por transformar, de uma forma bastante radical, o modo de vida das populações indígenas, uma vez que estas últimas, na sua quase totalidade, eram compostas profissionalmente de agricultores e pescadores, razão pela qual se tornou bastante fácil o referido processo de aculturação.
Como se sabe, ambas estas actividades se encontravam bastante dependentes dos elementos naturais para o seu sucesso ou insucesso, sendo que, aqui como noutros locais, os habitantes que a elas se dedicam tendem a respeitar de sobremaneira as expressões do ambiente e do meio envolvente, atribuindo-lhes significação simbólica e religiosa. Não será por acaso, quanto mais não seja porque o acaso não existe, que os grupos humanos formados essencialmente por pescadores e lavradores, tal como acontecia em Cascais no período imediatamente anterior à chegada dos Romanos, são mais propícios ao desenvolvimento de rituais místicos e mágicos.
Não será estranho a nenhum Cascalense, segundo esta ordem de ideias, o encontrar de diversas capelas e ermidas dedicadas a figuras simbólicas do cristianismo católico, edificadas sobre vestígios mais ou menos palpáveis de templos ou espaços sagrados anteriores, nomeadamente atribuídos a cultos pagãos ou indígenas pré-históricos. A continuidade ritual de Cascais será assim, como não poderia deixar de ser, o fruto de uma série de influências recebidas dos mais variados pontos do globo, desde as antigas migrações norte-africanas, até às recentes comunidades afro-brasileiras que aqui desenvolvem as suas acções. A dependência da terra e do mar, mesmo na actualidade, favorece as ligações entre o Homem e Deus, uma vez que o processo de funcionamento da natureza, à partida com características absolutamente aleatórias, se torna incompreensível para o comum cidadão, que é obrigado a procurar noutros sítios as explicações para os bons e maus anos de colheitas e para as boas ou más pescarias.
Assim, as contribuições dadas pelos invasores itálicos para o conhecimento daquelas que eram as melhores formas de controlar a natureza depressa lhes granjeou um respeito e uma fidelidade que veio a permitir a sua vasta interferência nos rituais mágicos e religiosos praticados neste espaço. Só que, nesta como noutras áreas directamente relacionadas com a presença romana no actual território Cascalense, também os invasores superaram o bloqueio ideológico promovido anteriormente. Os recém-chegados ocupantes, como povo desenvolvido à custa de intrincados processos de aculturação promovidos em todo o território imperial, incentivados pela riqueza crescente que a aculturação e a necessidade de homogeneidade promovia, depressa perceberam que a manutenção física do território conquistado, para ser duradoura e para produzir os tão almejados frutos económicos pretendidos, passava mais depressa pelo encetamento de relações amigáveis com os indígenas, do que pela manutenção de uma posição de força militar que, como já outros casos o haviam demonstrado, possui um tempo de vigência muito curto, para além de se tornar bastante dispendioso.
A única solução compatível, no caso peninsular, onde as populações autóctones possuíam um grau de desenvolvimento difícil de definir, uma vez que as suas estruturas de hierarquização social, bem como as principais características de vivência em grupo, se encontravam providas de bases bastante sólidas, o que, para alguns investigadores poderá ser sinónimo de um grau bastante grande de desenvolvimento, foi a de promover o contacto amigável entre os dois grupos, de onde resultou a miscelânea cultural encontrada em Cascais pelo Prof. José da Encarnação. Para outros investigadores, a consequente procura crescente de ritos e rituais paranormais, bem como a existência de uma complicada base ideológica e religiosa, traduz-se na prática pela pouca aptidão comunal pelas matérias relacionadas com o conhecimento científico.
Só que, em nosso entender, esses investigadores esquecem as características que normalmente revestem essa proclamada cientificidade, de onde se destacam, pela observação do devir histórico das ciências, o carácter precário e provisório de todas as descobertas efectuadas em quase todas as áreas do saber. Por esse motivo, e porque o saber mágico-ritual das populações indígenas Cascalenses, no momento imediatamente anterior à chegada dos romanos, era de facto bastante complexo, para além de espelhar grandemente a necessidade de compreensão da natureza e dos seus fenómenos, será lícito pensar que o desenvolvimento comunitário inerente a este facto deverá ser tido em conta, sendo essa, afinal, a única chancela que veio a condicionar o esforço romano de proclamar e desenvolver uma política de respeito face às crenças e à cultura peninsular. É por este motivo, mais do que por qualquer outro, que a miscenização entre romanos e indígenas vai marcar definitivamente a vivência daquele que é actualmente o território concelhio de Cascais, facto que teve o seu seguimento lógico, em momentos seguintes, pela continuidade de utilização desta política de mistura que esteve patente não só durante o período visigótico, com também durante o Árabe e mesmo durante os anos de ouro dos Descobrimentos.
A comprovar esta hipótese e na sequência do trabalho epigráfico do Prof. José da Encarnação, já mencionado anteriormente, está a existência de diversas lápides romanas encontradas em Cascais onde é possível vislumbrar a mistura em questão. Na sua obra «Roteiro Epigráfico Romano de Cascais», embora com algumas naturais reticências, o autor segue precisamente esse cainho: «por conseguinte, parece ter confluído na identificação deste divindade influências orientais. Não será de rejeitar a hipótese de uma relacionação - através do radical ar - com a água corrente, na sequência do raciocínio, apresentado em 1975, a reflectir a importância da Ribeira de Manique para os agricultores de antanho. Ma essa divindade tem um cunho étnico, digamos assim, atendendo ao primeiro sobrenome: protegerá de modo especial os Aranti; já o segundo encomiástico, terá uma função diferente, a de infundir confiança - porque Áraco vencerá todos os obstáculos... [...] É a dedicante uma indígena romanizada: usa o gentilício decerto mais frequente no termo de Olísipo - Iulius - e, por isso, não hesita em o mencionar simplesmente em sigla.»
É óbvio, quando se menciona a vivência psíquica e sagrada de uma comunidade que viveu tão afastada do presente, que o carácter dos conhecimentos que agora se adquirem e se difundem podem ser simplesmente pistas que servirão de bases a novas hipóteses, razão pela qual, e fundamentando a já referida precariedade do conhecimento científico actual, o ilustre autor acaba por concluir mais à frente: «Uma interpretação sedutora, confesso; assaz desprovida de fundamentos válidos, não o nego; mas é nesse campo ainda movediço que, infelizmente, ainda nos movimentamos quando tentamos desvendar o mundo ainda tão hermético da teonímia indígena peninsular».
Ao contrário do que pretenderam fazer crer algumas correntes historiográficas de outros tempos, a chegada dos muçulmanos à Península Ibérica foi sinónimo de riqueza, prosperidade e desenvolvimento. A destruição por vezes resultante dos confrontos que possibilitaram a conquista, era imediatamente substituída pelo esforço reconstrutivo dos novos senhores, bem patente na forma como a grande maioria das estruturas cristãs pré-existentes se mantiveram, apesar de alterações de pormenor relativamente ao culto e ao ritmo de vida que nelas se praticava. No caso já mencionado de Sintra, Concelho a partir do qual se constituiu, já no Século XIV, a independência jurídica de Cascais, essa forma de estar e de constituir a cidade é bem visível, conforme se pode vislumbrar nas palavras eloquentes de Sérgio Luís de Carvalho (4): “Assim se instalaram os árabes na região de Sintra a Colares, moldando duas povoações onde bem patente se observava a pujança de uma natureza no seu esplendor, e onde se desenvolvia o «amor pela liberdade», timbre de caracteres nobres. Aí implantaram as suas quintas, com seus pomares e vinhas, com seus riachos e fontes, as chamadas «almoínhas» (do árabe al-munya), tão frequentes nos contratos medievais sintrenses. Sem prejuízo de considerarmos as esparsas habitações que na zona já existiam, e sem olvidar alguma ocupação humana desde imemoriais tempos na zona (ver a propósito os estudos mais recentes de Cardim Ribeiro), o que a nós se nos afigura certo é que a «urbe» como tal, é de assentamento muçulmano. E deste modo, chegou à região de Sintra a civilização árabe; e desde modo foi edificado na própria vila o Paço de Sintra, morada dos «walis» (governadores), testemunho maior dessa mesma civilização, marca desse fulgor artístico por todos ao tempo reconhecido”.
O esforço de desenvolvimento da cidade por parte do ocupante muçulmano, oferecendo-lhe um esplendor que raramente o anterior senhor cristão se vira habilitado a conferir-lhe, fez dos povoados que se criaram ou se adaptaram nesta época, uma espécie de modelos urbanos, nos quais as diversas actividades do quotidiano, se arrumavam em parcelas e espaços que fomentavam a especialização e a organização sistemática. Mesmo não usufruindo de um rigor de planeamento que as ajudasse a criar uma tipificação rígida, as orientações programáticas oferecidas pelo Corão são normalmente suficientes para recriar na cidade muçulmana, um ambiente comum que lhes confere um romantismo sem igual. Na obra já mencionada, e depois de calcorrear o conjunto sinuoso das velhinhas ruas sintrenses, nas quais a falta de regra e de objectivo parece um aspecto remanescente, o autor da “História de Sintra” explica em termos mentais e culturais a forma como se processava o surgimento da dicotomia urbana sintrense: “Falemos claro: as cidades muçulmanas de um modo geral não possuem um plano inicial de base, nem se desenvolvem de acordo com qualquer esquema estabelecido. Para o islâmico, o espaço privilegiado não é a rua, mas a casa. É aqui que o crente reza, jejua, medita e descansa; é aqui que vive a intimidade da sua intimidade e repouso. A rua torna-se meramente o espaço de comunicação entre casas, tanto mais dispensável quanto mais soalheira é. Não é na rua que os crentes convivem quando necessário, é na mesquita, ponto sempre central de qualquer urbe; não é na rua que as mulheres convivem, é no recato dos pátios interiores, longe dos olhares forasteiros e perto dos regatos frescos”.
As actividades comunitárias, essencialmente masculinas pelas características próprias de uma religião que se fecha no essencial das palavras do profeta, são assim relegadas para um plano secundário na cidade muçulmana. O comércio e o mercado, fundamentais numa região como a da várzea sintrense, onde a produtividade era enorme, e o excedente permitia alicerçar uma excelente relação com a capital em Lisboa, processava-se em torno do recatado confronto de saberes dos anciãos de cada família. A especialização familiar, com cada membro a representar um papel bem definido e assaz complementar em relação aos desempenhados pelos restantes, determinava que a forma de organização da cidade fosse pouco importante para a rentabilidade do negócio.
A compra a venda de produtos, bem patente, ainda hoje, nas milenares feiras e romarias que existem em espaços onde a ocupação muçulmana foi efectiva, faz-se essencialmente no mercado público, sem estruturas especializadas neste tipo de actividade, ou de forma ambulante, de casa em casa, do recato individual da família, para situação idêntica do vizinho mais próximo.
A figura do saloio, ainda hoje conotado com o ocupante islâmico das envolvências da capital, é em si mesmo o repositório mais fidedigno da organização comercial que regia as urbes de origem magrebina. O pão saloio, o queijo saloio, e os demais produtos ligados e relacionados com esta forma cultural, identificam uma forma de estar e de ser que se manteve incólume neste País durante quase novecentos anos. A componente comercial da vivência saloia, num termo de Lisboa que assim caracterizava todos aqueles que compravam e vendiam os produtos agrícolas e hortícolas, conferia ao saloio uma autonomia que lhe permitia rentabilizar os seus tempos livres.
Na cidade muçulmana, mais do que nas antigas urbes cristãs, o acto de comprar e vender associava-se em permanência ao culto que acompanhava a generalidade das actividades do magrebino. Num dos seus interessantes artigos sobre a génese da portugalidade, Teresa Mesquitella sublinha que o carácter saloio estava vinculado também à actividade comercial que em permanência se exercia neste tipo de espaços. Segundo esta autora, o tempo de lazer do saloio é dedicado às feiras e às romarias, facto que consolida uma forma alternativa de vivência comercial que se instituirá nesta altura e se propagará ao longo dos séculos até à actualidade (5): “[...] ali se vende de tudo, do gado aos cestos, das alfaias agrícolas, legumes, enchidos, queijos, ovos, pão, bolos saloios, sementes, frutos, flores para plantar, cravos, amores perfeitos, ligam-se com fetos, apertados num cordel, para manter a humidade. Patos, galinhas, perus, há de tudo um pouco. Azeitonas, tremoços, etc.”
De facto, e sobretudo se nos ativermos àquilo que são as bases da culturalidade muçulmana, depressa perceberemos que, com excepção das actividades de lazer e comércio descritas por Teresa Mesquitella, muitas delas cristianizadas algum tempo depois e vinculadas a práticas que ainda hoje se mantêm quase incólumes, muito pouco sobrava de liberdade social ao indivíduo árabe para estabelecer relacionamentos que contribuíssem para a generalização da sua identidade. A prática do comércio, bem como de serviços análogos que revertiam em prol do crescimento social dessa cidadania, traduzia-se amiúde na recriação de uma forma diferenciada de gestão de conflitos, que se exercia de forma plena sempre que se estabeleciam as bases vigorosas de um novo entreposto urbano.
À cidade muçulmana, eivada das consequências lógicas impostas por uma História já muito antiga que havia caracterizado a existência dos povos que habitavam na Península Ibérica, juntam-se agora balizas sociais muito fixas, que necessitavam da harmonia imposta pelo relacionamento muitas vezes vilipendioso que resultava da prática do comércio, para fazer regurgitar a tendência sempre presente, embora muitas vezes de forma velada, de harmonizar condutas em função de um sentimento de partilha que se baseava no próprio espaço.
As estruturas orgânicas do poderio muçulmano, em permanência vincadas pelo estímulo municipalista que as antigas villae acabaram por promover, reconverteram a funcionalidade meramente circunstancial do povoamento paleo-cristão numa forma nova de existência de base política. Neste novo espaço, bem como nas zonas francas criadas por uma tolerância da prática religiosa que se afigurava essencial para garantir a paz e a estabilidade necessárias ao sustento do aparelho produtivo criado pelos novos invasores, o cosmopolitismo e o plurifacetado proselitismo de todos os que habitavam no novo império, permitia rentabilizar diferenças e recriar um ambiente novo que absorvesse as bases culturais de todos e aproveitasse o vasto espaço comum criado pelo poderio vigente para desenvolver económica e financeiramente a generalidade dos habitantes.
No antigo espaço senhorial que havia subsistido ao declínio do Império Romano, reinava agora uma enorme amálgama de poderes políticos, agregados, cada um deles, à génese cultural e religiosa de todos os povos e etnias que ali viviam, e assegurando uma cada vez maior necessidade de fomentar a gestão global da res-pública, como único caminho para gerar os tais consensos e promover a tão necessária harmonia. Os concelhos de raiz visigótica, por sua vez decalcados das antigas villae romanas, haviam-se tornado em entidades com cunho vincadamente jurídico, nas quais se processavam toda a espécie de decisões que tinham como objectivo manter os equilíbrios internos das comunidades, e zelar pela salvaguarda dos interesses colectivos da sociedade.
Para além da complexidade que naturalmente envolve a constituição social de um espaço urbano, pois a conjugação de saberes e de vontades implica sempre a sujeição de princípios e de valores comuns, outros problemas, muitas vezes esquecidos dos investigadores, contribuem para dificultar uma análise verdadeiramente operativa deste conjunto de problemas.
Como é evidente, mesmo dentro dos actuais espaços urbanos, a noção e o conceito de família, assumidamente núcleo central da operacionalidade social, alteram amiúde a forma como se sustêm os processos governativos da urbe. Na cidade muçulmana, génese residual da cidade actual, a motivação social suportou sempre um conjunto de princípios económicos que esventraram grande parte das motivações teóricas de constituição das cidades apontadas pelos investigadores.
De facto, mais do que os rigores impostos pela contratualização religiosa, a dinâmica orientadora da construção e regulamentação dos espaços urbanos, obedeceu primeiramente a critérios de índole economicista. Só assim, entendendo a economia como suporte intrínseco da capacidade de concretização dos diversos aspectos de génese cultural ou cultual destas comunidades, é que se torna possível compreender a forma como se orientaram em termos efectivos as diversas medidas de governação da cidade.
A doutrina política do islão, exigindo capacidade e eficácia nas concretizações do dia-a-dia, coíbe assim a cidade de se estender por domínios que impeçam a sua operacionalidade. As cidades muçulmanas, monótonas na forma como repetem de maneira incessante e estereotipada os ritmos e padrões de construção urbana que em nada deixam transparecer os diferentes registos culturais dos locais onde se inserem, rasteiam também grande parte das necessidades dos seus naturais e recolocam-nas na amálgama por vezes conflituosa do seu tecido urbano. Segundo Fernando Chueca Goitia, numa das mais sucintas abordagens à História do Urbanismo (6) a indiferenciação da cidade muçulmana fica a dever-se principalmente a essa razão prática, sublinhando que as consequências desta situação, sobretudo no que concerne à prática do comércio, são por demais evidentes: “De todas maneras, el aspecto de la ciudad musulmana es mucho más indeferenciado que el de la ciudad clásica y de la ciudad moderna. Una ciudad cuanto más compleja funcionalmente, más diferenciada resulta en sus estruturas. De aquí la monotonía de las orientales, en esto herederas de las urbes prehelénicas. El mundo islámico recoge buena parte de la herencia del mundo primitivo orientale, de las ciudades egipcias y mesopotámicas. Si conociéramos mejor éstas, podríamos establecer más fácilmente cuál há sido el precedente y la génesis de las del Islam, que hoy nos parecem insólitas”.
A grande lição a retirar deste tipo de estrutura urbana, sobretudo se pensarmos que o modelo teórico da cidade muçulmana se espraiou por um império vastíssimo, no qual coexistiram de forma pacífica diversos tipos de culturas, de tradições e de saberes, é que o cerne económico que suporta a existência do burgo, ultrapassa largamente a envolvência física e a moldura humana que o acompanha. Nestas cidades, a prática comercial, ontem como hoje, reveste-se de uma simplicidade que permite ao produto comercializado impor-se como tal, ou seja, desvinculando-o de procedimentos conjunturais e oferecendo-lhe uma importância que se basta a si própria.
A delimitação efectiva dos espaços, com a zona habitacional perfeitamente definida e com uma gestão que se poderia caracterizar como antagónica relativamente à zona comercial, contribui para que o comércio e o urbanismo surjam como realidades de gestão conjunta neste tipo de estruturas. Ao recriar, no seio da complexidade que as envolve, uma dicotomia perfeita entre o ambiente totalmente calmo e sossegado do espaço habitacional, no qual a família encontra todas as condições que lhe permitem fruir da sua intimidade, e o buliçoso espaço comercial, no seio do qual quase tudo é permitido, o islão impõe uma forma nova de estar na cidade que, complementando as faces diversas de uma mesma urbe, rentabiliza os verdadeiros assentos de cada uma das vivências, ao mesmo tempo que impede a criação de eventuais problemas resultantes de uma mistura forçada de interesses e de ideias. Na sua componente comercial, a cidade muçulmana faz jus à sua capacidade de se efectivar como fulcro das actividades quotidianas da população, enquanto na zona residencial, sem interferência com o barulho e com a necessária expressão que constrange o viajante, a paz, a calma e o sossego se transformam em elementos essenciais. Pierre George (7), numa das poucas obras sobre urbanismo europeu que dedica um espaço importante à organização da cidade muçulmana, traça com mestria o quadro típico desta dicotomia, ao mesmo tempo que explica como se organizam as duas componentes neste mesmo espaço: “El silencio y la calma hacen olvidar la extraordinaria acumulación de la población. Pero ésta se presenta com una exageración multicolor en el zoco, mercado de barrio o mercado general. Aquí aparece la outra faz del oriente, com su ruido de multitud y su olor acre de especias, polvo y sudor. Todos los pueblos, todos los tipos, parecem haberse dado cita: campesinas de Ghuta com amplios velos claros, rosa o azul pálido, hauraneses de cara tatuada y severo traje azul oscuro, judíos de Bagdad todos de negro, la cara bajo la visera a la moda de la Persia, beduinos del desierto envoltos en sua harapos y en su dignidad, curdos com turbantes multicolores, afganos vestidos de blanco, negros del Sudán en bubú y maghrebíes en su chilada”.
A especialização urbana das cidades muçulmanas, marcada de forma efectiva pela permanente troca de actividades e de costumes, era assim o garante da sã convivência entre os diferentes tipos de habitantes que nela residiam. Em torno da medina, espaço que tantas e tantas vezes é ainda hoje a base toponímica dos bairros mais típicos das actuais vilas e cidades portuguesas que tiveram uma origem islâmica, organizavam-se, no seio da aparente desorganização geral, os bairros residenciais e os arrabaldes. Enquanto na medina se situavam as principais e mais atractivas actividades da cidade, como por exemplo as mesquitas, as instalações do alcaide, e as zonas comerciais, nas restantes zonas da cidade a população agrupava-se de acordo com os seus ofícios e modo de vida. Esta forma de existência, mais do que qualquer outra formulação mais moderna de planificação urbana, garante um efectivo controle das tensões sociais e, contrariamente ao que actualmente alguns ditos especialistas procuram veicular, a uma maior capacidade de diálogo e de cooperação social.
A noção de gueto que tanto constrange as cidades actuais, ou seja, um espaço fechado onde se colocam as actividades ou as etnias que possuem características próprias ainda muito vincadas, é totalmente despropositada neste tipo de cidades. O espaço de especialidade, zona onde se concentram os habitantes e trabalhadores entre iguais, obriga necessariamente à criação de uma rede de permutas que diminua os problemas que resultam da inexistência de uma série de bens ou de produtos que só existem no espaço seguinte. O trânsito social, expressão que utilizaremos daqui em diante para designar a permanente migração de populações de raízes diferentes que coabitam num mesmo espaço urbano, obriga a um clima de convivência sã e de respeito mútuo que faz da cidade uma zona global onde todos podem encontrar a melhor forma de se fazerem entender.
De qualquer forma, dentro da medina, a diferenciação de imediato se esbate no seio da amálgama de odores e de cores que vão caracterizando cada um dos habitantes. A prática do comércio, principal motor desta miscenização social, é assim a base e o sustento da criação dessa paz, sendo, consequentemente, a principal orientação para a criação da própria cidade.
Apesar do carácter pitoresco das estruturas urbanas legadas pelos primórdios da existência urbana deste império, a grande valia das cidades muçulmanas reside no seu dinamismo comercial, sendo nele que se funda a própria estrutura habitacional.
Parece impossível, inverosímil e inaceitável! Mesmo quem percorre as ruas do centro de Berlim, aceitando o horror do que ali se passou durante a II Grande Guerra e que ainda se sente, tem dificuldade em aceitar que há tão pouco tempo tenha sido possível à capital de uma das mais importantes nações da Europa viver dividida num regime de terror que contraria os mais elementares princípios do respeito pelo homem… e no entanto, apesar de tudo e de todos, das memórias bem vivas que se preservam nas vidas daqueles que ali sofreram estas atrocidades, e de toda a evolução que a Europa conheceu ao longo das últimas décadas, passaram-se apenas 25 anos desde o início da demolição do muro da vergonha. Foi ontem…
É quase impossível, para quem viaja carregando a sensibilidade humanista natural na nossa sociedade ocidental, visitar a capital da Alemanha sem se transtornar com as memória sentidas que transbordam a cada recanto daquela cidade tão especial.
À primeira vista, para quem gosta da história e de tocar os mesmos monumentos e espaços tocados por outros ao longo dos milénios, Berlim não é a cidade ideal para uma viagem de recreio. Mas isso é só à primeira vista. Apesar de ter sido quase completamente arrasada em 1945 durante os bombardeamentos que puseram fim à II Guerra Mundial e ao ciclo de terror imposto pelo III Reich nazi, parece que as pedras que reconstruíram a cidade carregam consigo as memórias terríveis que encheram de dor, sofrimento e consternação aquele espaço.
Em cada canto que se visita, lá estão ainda os ecos dos passos ignominiosos do Führer e as sombras cáusticas dos milhões de homens, mulheres e crianças que caminharam aterrorizados para uma morte atroz e inconcebível. Os monumentos, as casas e as ruas, todos novos e alguns deles com pouco mais de década e meia de existência, não foram capazes de se limpar destas emoções e elas envolvem-nos, num limbo de nojo e de amargura que é maior do que as palavras utilizadas nos muitos guias turísticos que por lá se vendem, e que tornam única uma visita atenta a este local emblemático da Europa onde hoje vivemos.
Construído a partir de 1961, como consequência do agravamento das relações muito tensas que resultaram da divisão da cidade pelos aliados ocidentais e soviéticos depois do final da guerra, o muro de Berlim era uma realidade física com mais de 156 kms de comprimento e cerca de 300 torres de vigilância que literalmente dividiram a cidade e os seus habitantes, separando famílias e reforçando a dor da qual a Alemanha não tinha conseguido recuperar depois das atrocidades da guerra.
Em linha com o conjunto de circunstâncias inexplicáveis que dão forma aos mais importantes e impactantes episódios da História de Portugal, o conhecido “Milagre das Rosas”, protagonizado pela Rainha Santa Isabel, é um dos mais importantes exemplos da forma como o maravilhoso e o fantástico se cruzam amiúde, dando forma a entendimentos que ultrapassam gerações. São eles que, sem sentido algum, dão sentido ao sempre intrincado enredo de condicionalismos que compõe a existência humana…
Nascida em 1271 e filha do Rei D. Pedro III de Aragão e da Rainha Constança da Sicília, Isabel de Aragão foi rainha de Portugal por casamento efectuado por procuração com o Rei Dom Dinis em 1282.
A criança, trazida para Portugal em virtude de um casamento que resultou dos interesses políticos daquela época, recebeu mercês diversas e o senhoria de uma imensidade de cidades e vilas que serviram de dote inicial.
Com um marido que os documentos coevos apontam como “pouco devotado” à sua jovem esposa e dedicado em demasia aos encantos femininos de Portugal, a Rainha Santa Isabel ficou conhecida pela forma benigna que utilizava para tratar o seu marido e os muitos filhos ilegítimos dele. Em igualdade com os seus próprios filhos, a todos tratou com o mesmo desvelo, garantindo-lhes alimentação e educação e trazendo-os para o paço onde os mesmos cresceram.
Reza a lenda que, num dia em que o próprio rei a informou de que iria visitar umas amigas num convento situado numa zona próxima de Lisboa, foi ela própria quem lhe respondeu “Senhor… ide vê-las” tendo dado origem ao topónimo Odivelas.
Profundamente devota e dedicada às causas sociais, são também conhecidos vários arrufos com seu marido que, preocupado com o rombo nos cofres reais, via com maus olhos o desvelo com que ela tratava os mais pobres e necessitados, a quem oferecia pão e dinheiro a título de esmolas que lhe granjearam fama de santa ainda em vida. Foi de um desses episódios, aliás, que nasceu a sua lenda mais conhecida – a Lenda das Rosas – que romanticamente se espalhou em Portugal e que acabou por influir largamente na definição do espectro da espiritualidade nacional.
Reza a lenda que, numa manhã fria de Janeiro, a rainha saia do paço carregando pão para os pobres quando foi interpelada pelo rei que pretendeu saber o que é que ela transportava no regaço. Mentindo-lhe, a rainha disse-lhe que eram rosas que iria utilizar para alegrar os altares das igrejas da cidade. Estranhando a existência de rosas em pleno Inverno e principalmente naquela gélida manhã de Janeiro, Dom Dinis terá solicitado à rainha que lhe mostrasse o que transportava, e ela, largando das mãos o pão que escondia, deixou cair no chão um conjunto maravilhoso e muito aromáticos das mais bonitas rosas que se tinham visto por aquelas paragens… “São rosas, senhor!” foi a frase que ficou a marcar os arquétipos da crença nacional, corporizando um milagre de metamorfose alquímica que fui considerado como a prova máxima da sua santidade e sustento principal da sua beatificação (1516) e posterior canonização (1742).
Tendo tido uma profusa intervenção política em Portugal e em Castela, não só durante o período em que foi rainha mas também depois de viúva, interveio muitas vezes como mediadora em conflitos variados evitando a guerra e alcançando a paz entre os oponentes. O melhor exemplo aconteceu ainda durante a vida de Dom Dinis, quando este, dando preferência a um filho bastardo a quem pretendia deixar em herança o próprio Reino de Portugal, entrou em conflito com o filho legítimo, futuro Dom Afonso IV, tendo sido a rainha quem garantiu o alcançar da paz através de um processo de mediação que evitou aquela que possivelmente teria sido a mais sangrenta das guerras civis de Portugal.
Já muito doente, com a peste que matou centenas de milhares de pessoas em Portugal, deslocou-se a Estremoz em 1336 pra uma vez mais intervir num conflito que opunha o seu filho ao Rei de Castela. Faleceu no Paço Real daquela vila Alentejana, deixando escrita a sua vontade de que o seu corpo fosse sepultado no Convento de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra, onde havia professado.
Tendo morrido em Julho, numa época de calor tórrido semelhante aquele que ainda hoje fustiga aquelas terras, foi preparado um caixão de chumbo para transportar o corpo na longa viagem que teriam de fazer até à Cidade do Mondego. Tentando evitar os cheiros resultantes da decomposição do corpo ao longo daqueles dias, o féretro foi reforçado e envolvido em vários tipos de panejamento e em perfumes de várias espécies.
Mesmo assim, mercê do calor que afectou o caixão durante o trajecto, este ter-se-á deteriorado com os gases libertados pelo cadáver da rainha e aberto algumas rachas por onde começou a sair um líquido espesso que muito preocupou muitos daqueles que acompanhavam o cortejo. Mas, para surpresa de todos, verificou-se que esse líquido deitava um cheiro maravilhoso a flores e não o mau-cheiro pelo qual todos esperavam…
Por ocasião do processo de canonização, já no Século XVIII, quando o caixão foi transportado de Santa Clara-a-Velha para Santa Clara-a-Nova depois de as águas do Mondego terem inundado por completo o antigo convento, o caixão voltou a ser aberto e perante a estupefacção de todos, verificou-se que o corpo se mantinha incorrupto e que o cheiro continuava a ser o mesmo aroma a flores que haviam descrito os participantes no primeiro cortejo praticamente quatro séculos antes.
Na actualidade, com muitos devotos espalhados por Portugal e por Espanha, a Rainha Santa Isabel é venerada a 4 de Julho, dia da sua morte, sendo a sua mão exposta pontualmente para que possa ser vista por milhares de interessados.
Rainha, mulher e santa, Isabel de Aragão é uma das figuras incontornáveis da História de Portugal. Na sua vertente mística, associada a processos complexos de uma originalidade sem igual, extravasou largamente o seu tempo e espraiou a sua influência ao longo de muitas gerações que foram cruciais no desenvolvimento na afirmação e na sobrevivência de Portugal.
A sua veia alquímica, suportada pelo controle efectivo da organização da matéria, visível no Milagre das Rosas e na incorruptibilidade do seu corpo venal, representa o êxtase máximo que se pode associar à magia deste País tão especial…
Vale a pena conhecer, compreender e interiorizar. Porque a Rainha Santa Isabel ajuda a perceber Portugal.
Quando se chega à China tudo é inesperado e a sensação que perdura, mais do que os sons marcantes e os cheiros que preenchem todos os detalhes da sua paisagem marcante, é uma sensação de choque cultural que se traduz num impacto muito grande.
Com um regime político muito marcado pelo totalitarismo político do Partido Comunista, bem visível nos símbolos, nas cores e na profusa presença de militares nas ruas das cidades, a China empreendeu um esforço hérculeo ao longo das últimas décadas para literalmente apagar das memórias dos seus habitantes os ensinamentos antigos que haviam dado corpo à identidade nacional. Quem hoje visita a China, e salvo as raríssimas excepções de monumentos ancestrais que não foi possível demolir pelo impacto que tiveram e continuam a ter um pouco por todo o Mundo, como a Cidade Proibida, a Grande Muralha da China, etc. vê um país marcadamente ocidentalizado, com avenidas largas repletos de milhões de carros em engarrafamentos constantes, enormes arranha-céus ao jeito do que se faz na Alemanha e na América e centenas de gigantescos centros comerciais, copiados dos que existem no Ocidente mas agigantados ao gosto chinês, nos quais se encontram as marcas e as lojas mais importantes da Europa actual.
É por isso um banho de água fria, para quem lá chega à espera de encontrar os vestígios da cultura milenar chinesa, da sua forma de vestir e de estar, bem como os retorcidos telhados dos pagodes ancestrais. Tudo isso desapareceu mercê da revolução dita cultural que o regime empreendeu, e foi paulatinamente substituído por uma espécie de grande cenário Ocidental onde se tenta copiar de forma espampanante o que se faz por cá.
Mas tenta-se somente. Porque por detrás das fachadas de vidro, dos carros alemães e das lojas mais requintadas de Paris, sobressaem ainda os gestos antigos que os Chineses teimam em perder… os arrotos sonoros em plena rua, a preparação de comida à porta de casa, as cuspidelas para o chão e o lixo que esvoaça por todo o lado, contrastam de sobremaneira com aquilo que imaginamos para um lugar assim. E depois a desordem ordenada e controlada que existe por todo o lado. Num País onde não é possível navegar livremente na internet, as ruas estão cheias de prostitutas e chulos que perseguem os poucos turistas ocidentais que por ali andam, oferecendo o seu produto e tentando levar os mais incautos para aventuras estranhas e muitos caras das quais poucos têm a coragem de voltar a falar mais tarde.
E o engano é palavra de ordem que não deixa ninguém indiferente. À sombra da sua incapacidade de falar outra qualquer língua para além do Chinês e da natural dificuldade de comunicação que daí advém, qualquer ocidental que entre num táxi, que tente comprar o que quer que seja e que não esteja habituado aos usos e costumes daquela gente, será enganado com toda a certeza.
Apesar de tudo isso, da falta que fazem as memórias antigas de um País antiquíssimo e que tanta importância teve na nossa forma de estar e de ser, o impacto de uma visita à China traduz-se numa experiência de vida, provavelmente mais impactante do que qualquer outra viagem que alguém possa tentar fazer.
Vale a pena? Vale certamente!
Existem elementos incontornáveis numa visita a Pequim. Para além da sua imponência e antiguidade, são marcos fulgurantes na imaginação de qualquer um e definem com rigor aquilo que um turista Ocidental pensa antes de chegar a um destino tão impactante. A Cidade Proibida, a Praça de Tian’anmen, a Grande Muralha ou o Templo do Céus, são parte da paisagem e da aura de mistério que acompanha esta enorme metrópole asiática.
Tendo anteriormente designações diferentes, como Zhongdu, Dadu ou Cambuluc, Pequim (ou Beijing na ortografia local) é a actual capital da China. Com uma imensa população de quase 24 milhões de habitantes, é a segunda cidade chinesa depois de Shanghai e aquela que conjuga maior simbolismo no contexto da ditadura comunista que actualmente se está ali a viver.
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