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........... UM POUCO SOBRE HISTÓRIAS IMPORTANTES QUE JÁ MARCARAM SEUS PASSOS POR ESTE MUNDO FORA ........... PARA QUEM GOSTA DE LER E SABER O QUE SE PASSA PELO MUNDO.
Desde a Segunda Guerra Mundial, o Canadá passou por consideráveis modificações no que se refere à composição étnica e racial da população e, hoje em dia, é um país conhecido por sua sociedade culturalmente heterogênea. Um dos grupos de imigração relativamente recente que contribuiu para essa diversidade cultural foram os portugueses. Calcula-se que existam no Canadá cerca de 550 mil portugueses e lusodescendentes, estando a grande maioria localizada na província do Ontário (Gomes, 2001).
Com o passar dos anos, os portugueses foram construindo seu espaço no país. Prova disso é a manifestação do Real Canadian Portuguese Historical Museum em Toronto, que pretende reconhecer a presença portuguesa na América do Norte alguns anos antes da chegada de Cristovão Colombo ao continente. Em entrevista ao jornal português Ípsilon, Suzy Soares, presidente do museu de história (RCPHM), afirmou que “sempre houve vestígios de que o navegador português João Vaz Corte-Real esteve no Canadá em 1422, dezenove anos antes da chegada de Cristovão Colombo à América do Norte”.
Para os historiadores canadense e português, Henry Vivian Nelles (1830 - 1930) e Joaquim Veríssimo Serrão (1925), mais ou menos em 1.500 foi o ano em que Gaspar Corte-Real teria se aventurado nas terras setentrionais, cujas águas próximas já eram frequentadas por pescadores portugueses em busca de bacalhau. Os autores afirmam que, até mesmo antes disso, teriam estado na região da atual “Terra Nova”os navegadores Diogo de Teive, João Vaz Corte-Real (irmão de Gaspar) e João Fernandes Lavrador - que contribuiu com a geografia canadiana, pois a denominação da região e mar do Labrador no Canadá é em homenagem ao navegador português, que em 1498, juntamente com Pedro Barcelos, explorou aquela região (Pedra, 2017).
Porém, há controvérsias. Alguns historiadores canadenses possuem dúvidas de que o antigo capitão-donatário tenha estado onde se localiza atualmente o Canadá antes de 1492. Entretanto, em Portugal, para a maioria dos estudiosos, João Vaz Corte-Real realmente passou pela região antes de Colombo. (Ípsilon, 2016).
Após a chegada no país, os portugueses ocuparam as regiões rurais e tiveram de enfrentar o trabalho duro, empregando suas atividades com especial incidência na construção. Foi da mão do povo português que saíram obras como a CN Tower e o Skydome. (Gomes, 2001).
Comércio
De acordo com o historiador português Joaquim Veríssimo Serrão (1925), Mathieu da Costa, de pai português e mãe africana, foi o primeiro afrodescendente de que há registo no Canadá, em 1.600. O português Pedro da Silva foi o primeiro carteiro no Canadá, no ano de 1673. Joe Silvey, em 1853, foi um pioneiro na colonização da costa oeste do Canadá. Nas últimas décadas, os portugueses atingiram um nível de organização comunitária notável, desenvolvendo sua própria língua no país, serviços de comunicação e informação, negócios e serviços comerciais.
Bento de São José, de 80 anos, ex-militar, desembarcou no Canadá aos 23 anos, em 17 de março de 1963, dia de St. Patrick. Ele conta que havia acabado de chegar da África de uma missão, voltou a Portugal, casou-se e saiu em busca de abrir negócios no Canadá. “ Meus irmãos já moravam aqui e sempre me incentivaram a vir. Eu já vim com a cabeça feita, pensando em abrir uma fábrica de madeira e possuir outros negócios”, explica.
Porém, quando chegou, antes de iniciar com a vida de negócios, Bento fez de tudo um pouco. Trabalhou como instrutor de direção, trabalhou na Corte como tradutor, ajudou a construir casas e trabalhou até mesmo na agricultura.
“Quando cheguei não havia muitos portugueses no país, não havia a comunidade portuguesa. Foi tudo mais dificultoso para manter os negócios, principalmente porque fiz tudo sozinho”, conta.
Com força, fé e perseverança, como Bento mesmo gosta de destacar, em 1969 abriu seu negócio, a Bentos Auto Service Centre, que no início era apenas de bombas de gasolina. Com o tempo, a empresa foi crescendo, mudou para Dundas St. West e está prestes a completar 50 anos desde a sua abertura. Todos os dias, faça chuva ou faça sol, até aos fins de semana, o ex-militar faz questão de ir trabalhar. “Para mim, parar é morrer. Temos sempre que olhar para frente e avançar”, diz.
Apesar das dificuldades que enfrentou inicialmente, Bento diz se sentir acolhido pelo país. Cheio de orgulho, enche a boca para dizer que língua portuguesa é a quinta mais importante do mundo. “Temos que defender o nome do país que a gente veio”, enfatiza.
Em seu local de trabalho, faz questão de fazer reuniões periódicas com membros da comunidade portuguesa para debaterem sobre novas leis, seus direitos e deveres como cidadãos canadenses e verificar se algum membro está passando por alguma dificuldade.
Desde que chegaram ao país, a família São José fez história e ajudou a construir o espaço que hoje é denominado Little Portugal. O irmão mais velho de Bentos foi o primeiro contabilista e auditor português do Canadá. Bento foi o primeiro português a abrir as portas da política para os lusos, sendo que, na época, não tinham nem direito a votar. Concorrendo a membro do governo provincial, batendo de porta em porta, escola em escola, igreja e igreja, Bento criou o programa que facilitou a entrada dos lusos para concorrer a cargos públicos e, em 1985, os portugueses foram realmente considerados cidadãos canadenses ganhando o direito ao voto.
Little Portugal é um bairro com predominância residencial, com maior grupo étnico de portugueses e maioria de lojas portuguesas, que situam-se ao longo das ruas College e Dundas, dando o nome à área. Há um bom número de casas desde meados do século XX.
No ano de 1990, o ex-militar organizou uma manifestação com 13 mil pessoas no Queen’s Park para pedir ao estado canadense a aceitação dos imigrantes ilegais. Fato que, até hoje, é um problema para a comunidade portuguesa.
“O melhor presente que o governo poderia nos dar é o presente da Páscoa. Dar amparo aos cidadãos que se encontram ilegais no país. Para os adultos, para os jovens e para as crianças”, finaliza.
Na atualidade, há luso-canadianos espalhados em todos os ramos de atividades. Alguns até conquistaram cargos políticos, como é o caso de Ana Bailão, portuguesa que ganhou pela terceira vez como vereadora em Toronto, com 83,6% dos votos..Encontra-se, também, centenas de advogados, médicos, além de professores universitários, funcionários governamentais locais e funcionários de repartições públicas. Quanto às atividades econômicas, o número de profissionais portugueses ainda é pequeno. A grande maioria dos portugueses trabalha na construção, no ramo de hotelaria, manufatura e em cargos públicos. (Gomes, 2001).
Portugal Day
Neste ano de 2019, no mês de junho, comemora-se no Canadá, na Little Portugal, a 32ª Portugal Day Parade. Todos os anos, membros da comunidade portuguesa vão às ruas com bandeiras e roupas típicas para homenagear seu país de origem. Na última edição do evento, Julie Dzerowicz, Liberal do MPD, afirmou que pela primeira vez a nível nacional, o Canadá dedicou o mês de junho como o mês da Herança Portuguesa e o 10 de Junho como o Dia de Portugal.
Este evento, sem dúvida, mostra que a união lusitana é algo para se orgulhar, pois, os mais de meio milhão de portugueses, seja por nascimento, seja por descendência, todos os dias, ajudam a construir novas histórias, sem deixar suas origens. A nação canadense é diversificada e o povo português só tem agregado nessa enorme colcha de retalhos linguística e cultural que é o Canadá.
O arquipélago dos Açores tem 9 ilhas. Três delas são tão próximas uma da outra, que, de qualquer uma, vê-se as outras duas. São elas as ilhas do Pico, Faial, e São Jorge.
A Ilha do Pico é famosa por ter a montanha mais alta de Portugal e vinhedos no meio das rochas.
Já a Ilha do Faial “aumentou” na década de 1950 por conta da explosão de um vulcão no mar. As cinzas e pedras lançadas na erupção criaram uma nova extensão de terra.
Na Ilha de São Jorge fica a maior caverna (algar) dos Açores, que pode ser visitada em vários tipos de passeio, com opções que agradam desde o mais jovem aventureiro até a famíla mais tranquila.
Com 15 mil habitantes, o Faial é a terceira ilha mais populosa dos Açores.
Na capital, Horta, fica a marina mais movimentada do arquipelágo. Ela é uma das paradas preferidas de quem cruza o Atlântico Norte.
Horta é o melhor lugar para se hospedar no Faial, ja que é onde fica o porto que a conecta às outras ilhas. O acesso ao aeroporto tambem é fácil.
E, de lá, a gente enxerga o tempo todo o Pico, ponto mais alto de Portugal, que fica na ilha vizinha.
No outro extremo do Faial, a 22 km de distância, fica Capelinhos, uma extensão de terra que surgiu em 1957, com a explosão de um vulcão.
Tudo começou com uma turbulência no mar, no lado oeste da ilha.
Os pescadores da vila próxima inicialmente acharam que eram baleias. Mas não. A turbulência estava sendo provocadas pela explosões decorrentes do encontro da lava com a água do mar.
Em seguida começou a emissão de jatos de cinzas negras, acompanhados por uma grande coluna de vapor d’água e gases vulcânicos.
Era o começo de uma erupção que duraria 13 meses.
Em poucos dias surgiu uma primeira montanha, a poucos metros da ilha e do farol. Ela sumiu e foi substituída por uma segunda, que também sumiu. A terceira permanceu e, com a continuação da erupção, acabou ligando-se à ilha.
O antigo farol foi coberto pelas cinzas e teve que ser abandonado. A gente pode subir lá em cima e impressionar-se com a vista.
A antiga vila de pescadores também foi abandonada e coberta pelas cinzas e pedras. Aos poucos o vento está removendo a areia, e telhados ja podem ser vistos em alguns locais.
Lá a gente entende o fenômeno geológico e, também, o impacto que a erupção teve na vida da população – metade dos habitantes do Faial emigraram para os Estados Unidos e o Canadá nessa época.
Esse artigo da National Geographic conta essa história toda com mais detalhes e com depoimentos de quem viu a explosão.
Na volta de Capelinhos para Horta paramos na Caldeira, o vulcão que deu origem à ilha.
Quem gosta de trilhas pode circular o vulcão a pé. A volta na Caldeira tem apenas 6,9 quilômetros e pode ser feita tranquilamente em menos de duas horas.
Os mais aventureiros podem escolher outra trilha. A mais desafiadora da ilha é chamada de Dez Vulcões, tem quase vinte quilômetros e a duração média para completar o percurso é de cinco horas.
Nós não alugamos carro no Faial. Usamos táxi e saiu bem mais barato. Essa é a tabela de preço oficial dos táxis em julho de 2019.
A localização é ótima, com vista privilegiada para a Ilha do Pico, e o hotel tem uma estrutura de piscinas que aproveitamos bastante.
Quem prefere banho de mar pode ir caminhando até a praia do Porto Pim.
Quem visita essa ilha, normalmente está interessado em escalar o Pico, a montanha mais alta de Portugal, com 2.351 metros de altitude.
A escalada, que deve ser feita com acompanhamento de guia, leva um dia inteiro. Em média são 3h30 para subir e mais 3h30 para descer.
Eu confesso que estava mais interessado em conhecer a Paisagem da Cultura da Vinha e do Vinho, considerada Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.
A gente já pode ter uma idéia dela quando chega na ilha de avião.
Esses muros de pedra, chamados de “currais”, foram construidos para possibilitar o cultivo da vinha.
Foi a única cultura que os primeiros habitantes, que chegaram no século XVII, conseguiram desenvolver no solo vulcânico.
Os muros de pedras vulcânicas protegem as uvas do vento que vem do mar. A área onde ficam os currais é chamada de lajido.
O contraste do azul do mar e do céu com o verde das vinhas e o preto das pedras é lindo! A vinha cresce no chão. Tá vendo os cachinhos de uva escondidos aqui?
O contraste fica ainda mais lindo com o vermelho das janelas e portas das casas e do moinhos que se espalham pela região.
São dois lajidos no Pico, um à esquerda e outro à direita da vila de Madalena, onde nos hospedamos.
Esse das foto é o lajido de Criação Velha. O outro é o lajido de Santa Luzia, onde há um pequeno Centro de Interpretação que fala sobre os vinhos produzidos na região.
Perto do Lajido da Criação Velha fica uma das muitas piscinas naturais da ilha. Essa foi minha preferida. Além das tradicionais pedras, tem um espaço com areia e um bar.
Um dos pontos altos da viagem foi um fim de tarde no Cella Bar, com arquitetura inspirada em um barril de vinho.
Do terraço a gente tem uma vista deslumbrante para o mar e a ilha do Faial. Acompanhada de vinho e queijo local fica melhor ainda.
Os três queijos. O São João é um queijo macio, que lembra o queijo brie. Mas os meus preferidos foram o Alfredo e o Leal, mais firmes e bastante salgados.
Outro aspecto interessante da ilha do Pico é essa piscina, que fica em Madalena. Além da vista, sempre deslumbrante, o acesso a piscina é livre.
A piscina, que é pública, fica do ladinho de uma piscina natural, entre as pedras. No verão, durante o dia, tem salva-vidas protegendo quem se diverte no local.
De noite ela também fica aberta. Nada mal um banho de piscina grátis com esse pôr do sol…
De vila de Madalena, de lá saem barcos diários para Faial e aviões regulares para Lisboa. Também é o local com melhor estrutura turística e onde concentra-se a maioria dos restaurantes e bares.
Em Madalena, uma opção de hospedagem interessante é o Jeirões do Mar, um condomínio de casas próximo à piscina pública e a 500 metros da igreja central da vila.
As outras localidades importantes da ilha são Lajes do Pico e São Roque.
De Lajes do Pico saem os passeios de barco para quem quer observar baleias.
De São Roque é fácil pegar um barco para São Jorge, a terceira ilha do Triângulo.
Pertinho de São Roque fica a Prainha, que tem esse nome por ser o único local do Pico onde se forma naturalmente uma praia de areia – mas só no verão.
Nós alugamos um carro para passear por essa ilha e valeu muito a pena. Recomendo.
Não foi dessa vez que conhecemos a ilha que produz os queijos mais famosos do arquipelágo.
O Queijo de São Jorge é um dos 5 produtos de origem de denominação protegida dos Açores. Os outros são o ananás e o maracujá de São Miguel, o queijo do Pico, e o mel dos Açores.
A principal atração turística de São Jorge é a possibilidade de explorar cavernas, já que lá fica a maior dos Açores.
O jeito mais fácil para chegar em São Jorge, que tem portos nas vilas de Calheta e Velas, é pegando um barco de qualquer uma das outras quatro ilhas do Grupo Central (Faial, Pico, Graciosa e Terceira). Também há vôos de São Jorge para as ilhas Terceira e São Miguel.
Chegar nas duas ilhas que fui, Faial e Pico, é mais fácil. Além dos barcos e vôos regionais, as duas ilhas tem vôo direto para Lisboa.
Essa é imperdível para quem vai a São Miguel, a maior ilha do arquipélago. O Cozido das Furnas tem uma forma de preparo única. Ele é feito sob a terra, com panelas enormes sendo enterradas na área aquecida pelo vulcão.
Para ver toda a função é só ir até a Lagoa das Furnas. Lá tem um campo de fumarolas, que são aberturas na crosta terrestre, de onde saem vapor de água e gases.
Nesse campo, foi criada uma “zona de cozidos”, cheia de buracos como esse.
Alguns dos buracos são reservados para os restaurantes que servem o prato. Outros podem ser utilizados por qualquer um que chegar lá.
As panelas com os ingredientes ficam enterradas de 6 a 8 horas. Quem chega na lagoa entre 12h e 15h, com certeza verá alguma das panelas sendo retirada da terra quente.
O cozido é então levado para os restaurantes que servem o prato. São vários. O mais tradicional é o Tony’s. O restaurante do Hotel Terra Nostra também serve um cozido bem famoso.
A principal diferença é que o primeiro é um restaurante bem simples e o outro fica em um hotel de luxo. Isso resulta em diferenças na variedade dos ingredientes e na maneira em que o prato é servido. Em termos de sabor, eles são muito parecidos.
Provamos os dois. Para uma experiência mais autêntica, sugiro o do Tony’s. Afinal, estamos falando de um prato tradicional, simples, preparado pelos habitantes da região para consumo próprio há muito tempo.
Para um almoço mais gourmet, o do hotel é melhor.
A variedade de ingredientes é maior, o prato vem acompanhado por uma jarra de caldo do cozido e, ao invés de chegar na mesa em uma travessa servida, o garçom coloca ingrediente por ingrediente no prato, enquanto explica o que cada um é.
É mais caro, mas compensa para quem gosta desse tipo de experiência.
Entre as outras opções de restaurante, o Caldeiras e Vulcões chamou a minha atenção. Oferece, além do cozido, outros pratos preparados nas fumarolas, incluindo feijoada.
Para os mais valentes, esse post do blog Viajar entre Viagens ensina como você pode fazer seu próprio cozido nas fumarolas do vulcão.
Aproveitando que já estamos em Furnas: no centro da freguesia fica uma área conhecida como Chã das Caldeiras. É uma praça, onde há várias fumarolas e, também, várias nascentes de águas minerais.
Essa é uma das maiores fumarolas, conhecida como Caldeira do Asmodeu. A água sai da terra com temperatura de 98,8º C.
São várias dessas no parque. O enxofre deixa as pedras amareladas e solta um cheiro forte, que se esparrama por toda a região.
Tem também muitas fontes de águas minerais na Chã das Caldeiras. A mais famosa é a da Água Azeda. A gente provou. É esquisita… mas dizem que faz desaparecer caspa e que ajuda na digestão.
“Precisamos de pontes, não de muros”, disse o papa Francisco, numa celebração dominical que evocava os 25 anos da queda do Muro de Berlim.
Esta alusão a muros e pontes é recorrente e tem variáveis em torno da mesma ideia: escolhemos insistentemente a divisão em vez da união.
Muros são personagens históricos quase vívidos, impondo-se firmes e verticalmente como opressores, separando aquilo que não se quer unido, dividindo aquilo que não se quer somado.
Muros remontam a nosso berçário civilizacional, quando grupos antigos montavam obstáculos físicos para deter inimigos e garantir seus domínios.
As cidades antigas eram muradas e também passaram a ser murados alguns limites mais amplos, demarcando mundos distintos de humanos distintos.
Entre os anos 122 e 126 o imperador romano Adriano mandou erigir o Vallum Aelium, que passou a ser reconhecido com naturalidade como a Muralha de Adriano e tinha propósito defensivo militar estratégico, mas também deixava clara a ideia de que do lado de lá da estrutura estava uma outra natureza de homens, os bárbaros, as tribos animalescas que não eram assemelhadas ao esplendor de Roma.
Séculos e muros depois, na Alemanha (ou nas Alemanhas) o Muro de Berlim traçava os limites entre modelos sociais e projetos políticos que se afirmavam como opostos.
Este muro durou relativamente pouco, mas os simbolismos em torno dele são presentes e serão duradouros e por isso mesmo referenciam outras muralhas demarcatórias e divisionistas.
O Muro de Israel construído sobre a Palestina e sobre os palestinos é outra obra de nossa engenharia da truculência e está ainda em expansão, traçando uma abusiva fronteira tridimensional de concreto em terras tomadas dos palestinos por meio dos assentamentos israelenses irregulares que são fincados diante do silêncio omisso (ou conivente e até parceiro) do Ocidente.
Como a divisão é uma vocação que os poderosos exercem como uma missão, o novo muro em evidência é o ianque, que foi elevado a uma condição de obsessão pelo presidente Trump.
O presidente de franja quer que os mexicanos paguem pelo muro que é seu projeto populista de ludibriar os ianques, imputando aos estrangeiros pobres que cruzam a fronteira as mazelas que não foram produzidas por eles.
Mister Trump condena os mexicanos pelo narcotráfico que “invade” os EUA, mas não se atém ao fato de que seus compatriotas são os maiores consumidores de drogas do mundo e o maior mercado do mundo gera oferta.
O capitalismo que Trump segue como religião funciona assim: se há demanda abundante a oferta buscará satisfazer o mercado, logo, com muro ou sem mexicanos não faltarão depois fornecedores e estrangeiros a quem culpar pelo pecado pátrio.
O Muro de Trump é um projeto velho. É resultado de uma perspectiva antiga que também rotula e estabelece uma divisão fundada em poder e presunção.
Os bárbaros ao sul do muro são os mexicanos do México e os mexicanos genéricos até a Patagônia. Somos esses mexicanos também, embora muitos de nós não tenham percebido.
Que o Muro de Trump nos sirva como lição sobre o que queremos para a América Latina, pois ou o concreto nos subjuga ou nos faz entender que precisamos de um novo rumo para os americanos ao sul do Rio Bravo, um rumo nosso, integrado e próspero porque esta América Latina de veias abertas sobre a qual escreveu o uruguaio Eduardo Galeano precisa gerar riqueza também para os seus filhos.
O general nacionalista mexicano Porfírio Díaz governou seu país em duas oportunidades e proferiu uma sábia verdade sobre a situação de sua terra: “Pobre México: tão longe de Deus e tão perto dos EUA”.
Que o lamento de Díaz deixe de ser uma dolorida constatação para os mexicanos do México e para os demais mexicanos dos outros Méxicos da América Latina. E que nossas elites não tenham a cabeça, o coração e os interesses do outro lado do muro.
Acredita-se que a ilha tenha sido descoberta entre 1426 e 1439 já se encontrando assinalada em portulanos de meados do século XIV como "Ilha Verde". O seu descobrimento encontra-se assim descrito:
"O Infante D. Henrique, desejando conhecer se haveria ilhas ou terra firme nas regiões afastadas do Oceano Ocidental, enviou navegadores. (...) Foram e viram terra a umas trezentas léguas a ocidente do cabo Finisterra e viram que eram ilhas. Entraram na primeira, acharam-na desabitada e, percorrendo-a, viram muitos Açores e muitas aves; e foram à segunda, que agora é chamada de S. Miguel, onde encontraram também aves e Açores e, além disso, muitas águas quentes naturais."
Constituiu uma capitania única com a ilha de Santa Maria, tendo como primeiro capitão do donatário Gonçalo Velho Cabral. O seu povoamento iniciou-se em 1444, a 29 de Setembro, dia da dedicação do Arcanjo São Miguel, então patrono de Portugal e santo da especial devoção do Infante D. Pedro, então Regente do Reino, e que dá o nome à ilha.
Os primeiros povoadores desembarcaram entre "duas frescas ribeiras de claras, doces e frias águas, entre rochas e terras altas, todas cobertas de alto e espesso arvoredo de cedros, louros, ginjas e faias". Trouxeram consigo gado, aves e sementes de trigo e legumes e outras coisas necessárias. Fundaram então, a primeira "povoação de gente" na ilha que, mais tarde, ficaria conhecida apenas por Povoação Velha de S. Miguel, onde se ergueu a primitiva Igreja de Santa Bárbara, no local onde foi dita a primeira missa seca. Posteriormente, percorrendo a costa para oeste, encontraram uma planície à beira e ao nível do mar, que lhes agradou e onde decidiram fixar-se. A povoação ficou conhecida como "do Campo", e em pouco tempo receberia o estatuto de "vila franca" (isenta de tributos excepto o devido à Coroa de Portugal), o que contribuiu para atrair mais povoadores.
Entre os nomes destes primeiros povoadores registam-se os de Jorge Velho , Gonçalo Vaz Botelho, o Grande e Afonso Anes, o Cogumbreiro , Gonçalo de Teves Paim e seu irmão Pedro Cordeiro.
Visando atrair mais povoadores para esta ilha, de maiores dimensões e características geológicas mais dinâmicas do que Santa Maria, foi necessário oferecer maior incentivo ao povoamento, o que veio a ser expresso por carta régia de 20 de Abril de 1447, pela qual se isentam os moradores desta ilha da dízima de todos os géneros nela produzidos:
"Dom Afonso, etc. A quantos esta carta virem (...). Temos por bem e quitamos deste dia para todo sempre a todos os moradores que ora vivem e moram, ou morarem daqui em diante em a dita ilha de todo o pão e vinho e pescados e medeiras e legumes e todas as outras coisas que nela houverem e trouxerem a estes nossos reinos por qualquer forma. (...)"
Aos primeiros povoadores juntarão se outros, oriundos principalmente da Estremadura, do Alto Alentejo, do Algarve e da Madeira. Posteriormente, alguns estrangeiros também se instalam, nomeadamente Franceses , e minorias culturais como judeus e mouros.
A posição geográfica e a fertilidade dos solos permitiram um rápido desenvolvimento económico, baseado no sector primário, voltado para o abastecimento das guarnições militares portuguesas no Norte d'África e na produção de açúcar e de urzela, um corante exportado para a Flandres. O sobrinho de Gonçalo Velho Cabral, João Soares de Albergaria, sucedeu-lhe no cargo. À época de Albergaria, anteriormente a 1472, receberam foral de vilas as localidades de Vila do Porto e de Vila Franca do Campo, as mais antigas dos Açores.
Por motivo de doença de sua esposa, D. Brites Godins, deslocou-se com ela para a Ilha da Madeira, em busca de clima mais favorável, sendo acolhidos pela família do capitão do Funchal, João Gonçalves da Câmara de Lobos. Aí foi decidida a venda da capitania de São Miguel, por 2.000 cruzados em espécie e 4.000 arrobas de açúcar. Este contrato teve a anuência da Infanta D. Beatriz, tutora do donatário, D. Diogo, duque de Viseu, conforme carta de 10 de Março de 1474, sendo ratificada pelo soberano nestes termos:
"Fazemos saber que Rui Gonçalves da Câmara, cavaleiro da Casa do Duque de Viseu, meu muito amado primo, e prezado sobrinho nos disse como lhe per a Infanta Dona Beatriz, sua madre e tutor, em nome seu, era feita a doação da capitania da ilha de San Miguel para sempre aprovamos e confirmamos a dita doação.".
Ficaram assim definitivamente separadas as capitanias de São Miguel e Santa Maria.
Vila Franca do Campo, mais importante porto comercial da ilha, considerada sua primeira capital, e onde esteve localizada a alfândega até 1528, foi arrasada pelo grande terramoto de 22 de Outubro de 1522, em que se estima terem perecido 4000 pessoas. Após a tragédia, os sobreviventes transferiram-se para a povoação de Ponta Delgada, logrando obter do soberano os mesmos privilégios de que gozava cidade do Porto, conforme já o gozavam os de Vila Franca do Campo, iniciando-se o seu desenvolvimento, de tal modo próspero, que Ponta Delgada foi elevada a cidade por Carta-Régia passada em 1546, tornando-se capital da ilha.
No contexto da crise de sucessão de 1580, aqui tiveram lugar lutas entre os partidários de D. António I de Portugal e de Filipe II de Espanha, culminando na batalha naval de Vila Franca, ao longo do litoral sul da ilha (26 de Julho de 1582), com a vitória dos segundos. Após a batalha, D. Álvaro de Bazán, marquês de Santa Cruz de Mudela, desembarcou em Vila Franca do Campo, onde estabeleceu o seu quartel general e de onde fez supliciar por enforcamento cerca de 800 prisioneiros franceses e portugueses, no maior e mais brutal massacre jamais ocorrido nos Açores.
Pelo apoio dispensado à causa de Filipe II, a família Gonçalves da Câmara, na pessoa de Rui Gonçalves da Câmara, capitão do donatário, recebeu o título de conde de Vila Franca por alvará de 17 de Junho de 1583.
A Terceira é uma das nove ilhas dos Açores, integrante do chamado "Grupo Central". Primitivamente denominada como Ilha de Nosso Senhor Jesus Cristo das Terceiras, foi em tempos o centro administrativo das Ilhas Terceiras, como era designado o arquipélago dos Açores. A designação Terceiras aplicava-se a todo o arquipélago do Açores visto ter sido o terceiro arquipélago descoberto no Atlântico (o arquipélago das Canárias era designado de Ilhas Primeiras e o arquipélago da Madeira por Ilhas Segundas, segundo a ordem cronológica de Descoberta).
Com o avançar dos anos esta ilha passou a ser conhecida apenas por Ilha Terceira. Ao longo de sua história, a Terceira desempenhou um papel de grande importância no estabelecimento e manutenção do Império Português, devido à sua localização geoestratégica em pleno Atlântico Norte.
"A ilha Terceira, universal escala do mar do imponente, é celebrada por todo o mundo, onde reside o coração e governo de todas as ilhas dos Açores, na sua cidade de Angra, cujo porto está em trinta e nove graus da banda do norte." (Gaspar Frutuoso. Livro Sexto das Saudades da Terra).
Não há certeza quanto à data de descoberta da Terceira, embora a mesma já figure em portulanos quatrocentistas. Foi inicialmente denominada como Ilha de Jesus Cristo e, posteriormente como Ilha de Jesus Cristo das Terceiras, até se afirmar a designação actual de apenas Terceira.
A ilha começou a ser povoada a partir da sua doação, por carta do Infante D. Henrique, datada de 21 de Março de 1450, ao flamengo Jácome de Bruges:
"Eu, o Infante D. Henrique (...) faço saber que Jácome de Bruges, natural da Flandres, me disse que (...) estando a ilha Terceira, nos Açores, erma e inabitada, me pedia que lhe desse autorização para a povoar, como senhor das ilhas. E eu, (...) querendo lhe fazer graça e mercê, me apraz conceder-lha.
E tenho por bem que ele a povoe da gente que lhe aprouver, desde que seja de fé católica." Bruges trouxe as suas gentes, muitas famílias portuguesas e algumas espécies de animais, tendo o seu desembarque ocorrido, segundo alguns estudiosos, no Porto Judeu, e, segundo outros, no chamado Pesqueiro dos Meninos, próximo à Ribeira Seca. Gaspar Frutuoso refere, a seu turno: "(...) Afirmam os povoadores antigos da Ilha Terceira que fora primeiro descoberta pela banda do norte, onde chamam as Quatro Ribeiras, em que agora está a freguesia de Santa Beatriz, que foi a primeira igreja que houve na ilha, mas não curaram os moradores de viver ali por ser a terra muito fragosa e de ruim porto. (...)."
(FRUTUOSO, Gaspar. Saudades da Terra (Livro VI). cap. I, p. 8-9) A primeira povoação terá sido no lugar de Portalegre, erguendo-se um pequeno templo, o primeiro da ilha, sob a invocação de Santa Ana. Tomadas as primeiras providências para a fixação das gentes, Brugues retornou ao reino a pedir mais pessoas para auxiliá-lo no povoamento. Nessa viagem, terá passado pela ilha da Madeira, de onde trouxe Diogo de Teive, a quem foi atribuído o cargo de seu lugar-tenente e Ouvidor-geral da ilha Terceira. Além destes titulares, vieram para a ilha alguns frades franciscanos para o culto religioso, visto que as ilhas pertenciam à Ordem de Cristo.
Entre os primeiros povoadores cita-se ainda o nome de outro flamengo, Fernão Dulmo, que recebeu terras nas Quatro Ribeiras, entre o Biscoito Bravo e a ribeira da Agualva, lugar onde, segundo o historiador Francisco Ferreira Drummond "...ali desembarcou com trinta pessoas, cultivou a terra e deu princípio à igreja".
Em 1460, após a entrega da capitania da Terceira a Jácome de Bruges, o Infante D. Henrique doou a ilha e a Graciosa ao Infante D. Fernando, seu sobrinho e filho adoptivo. Falecido este último (1470), assumiu a donataria, durante a menoridade do Infante D. Diogo, a Infanta D. Beatriz, sua mãe.
Mediante o desaparecimento de Brugues, ela dividirá a ilha em duas capitanias, em 1474: a capitania de Angra - entregue a João Vaz Corte Real; e a capitania da Praia - entregue a Álvaro Martins Homem (embora este já tivesse iniciado o povoamento no lugar de Angra).
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.